Resenha: Psicopata Americano

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 Psicopata Americano foi um filme que deixou sua marca no imaginário popular. Agora a DarkSide Books traz, em uma edição de luxo, o livro que inspirou essa história polêmica e aterrorizante. Saiba mais na resenha de Psicopata Americano!

"Patrick Bateman é um sujeito aparentemente invejável. Jovem, bonito, bem-nascido com boa educação, ele trabalha em um conhecido banco de investimentos em Wall Street, enquanto passa as noites entre jantares, boates e festa particulares, regadas com todos os aditivos inerentes ao lado mais sombrio da vida noturna de Nova York no final dos anos 1980. Bateman, porém, tem alguns segredos bem guardados. Por trás da fachada de normalidade, possui o instinto de um serial killer, com toda a torpeza, degradação, asco e repulsa que um psicopata consegue provocar.

Formado em Exeter e Harvard, Bateman também é gourmand, entusiasta do bronzeamento artificial e de infindáveis tratamentos estéticos, implacável crítico de moda e consumidor ávido das últimas traquitanas tecnológicas de então, como aparelhos de som 3x1 e videocassete. Mora em um luxuoso apartamento no Upper West Side, em Manhattan, onde é vizinho do astro de Top Gun, Tom Cruise. No romance, acompanhamos os dias e noites de Bateman, que seriam banais, não fossem os crimes abjetos e sem razão aparente que ele comete, de maneira que não conseguimos compreender. Sem remorso. Sem piedade. Contra mulheres. Contra mendigos. Contra músicos de ruas. Contra colegas. Contra crianças. Expressando seu verdadeiro eu por meio de tortura e assassinato, Bateman prefigura um horror apocalíptico que nenhuma sociedade suportaria encarar. Uma violência represada, escondida, inaudita, porém insistentemente presente na sociedade norte-americana, como o autor sugere ao descrever o programa de TV favorito do protagonista, The Patty Winters Show, que apresenta trivialidades (como dicas de beleza da princesa Diana), sensacionalismo (“Adolescentes que trocam sexo por crack”) e horror real (assassinos de crianças e neonazistas)."


FICHA TÉCNICA
Título: Psicopata Americano
Autor: Bret Easton Ellis
Ano: 2020
Páginas: 432
Idioma: Português
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA
CONTEÚDO ADULTO


ATENÇÃO: Optei por não dar uma nota ao livro porque geralmente a história e minha experiência com o livro influenciam bastante no meu critério e não me senti confortável para dar uma nota para Psicopata Americano porque 1) se eu colocasse uma nota baixa, as pessoas poderiam ter a impressão de que apenas é um livro ruim, o que não é; 2) se eu colocasse uma nota alta, sentiria como se estivesse validando ou dizendo que gostei da história e do que ela traz, o que está longe de ser verdade. Então decidi trazer uma resenha extremamente objetiva e com avisos importantes de que o livro é um dos mais fortes que já li, mais violentos e angustiantes. O livro contém gatilhos de violência, estupro, abuso, racismo e linguagem forte. 


O mito de Narciso já foi incorporado de diversas formas ao longo da história. A referência de um homem que, de tão arrogante e orgulhoso, se apaixona por seu próprio reflexo, já foi reiventada e reimaginada por diversos autores e reapresentada em algumas das histórias mais marcantes da cultura pop. Psicopata Americano sempre foi uma referência quando pensava em um perfeito exemplo de narcisismo e, com o livro, isso fica ainda mais claro. 

Em meados da década de 80, já no final da Guerra Fria, com o capitalismo se tornando mais agressivo e o ideal do "sonho americano" como referência no mundo todo, temos Patrick Bateman como protagonista em Psicopata Americano. Narcisista, consumista, preconceituoso, misógino, arrogante e rico, Bret Easton Ellis faz uma belíssima crítica ao usar Bateman para representar os estereótipos da época de um jeito perturbador.


Psicopata Americano é um terror arrepiante, mas o que mais assusta é o fato de o livro ser mais atual do que nunca. A maior parte do livro contém descrições de produtos, roupas, penteados, marcas e tudo aquilo que possa ser usado para descrever, superficialmente, uma pessoa e o que ela tem. O protagonista enxerga o mundo por meio das lentes do capitalismo e as pessoas e coisas só tomam forma aos seus olhos se estiverem embrulhados em marcas caras e representações de luxo e ostentação. 

A partir daí já conseguimos entender porque Psicopata Americano ainda é um livro extremamente atual. Em determinado capítulo, temos quase duas páginas apenas com a descrição detalhada dos exercícios que Patrick executa na academia, quantas séries e com qual objetivo. O externo nunca foi tão necessário para se sentir bem consigo mesmo e, infelizmente, essa é uma característica que não se restringe à ficção, ainda mais na era das redes sociais.


Em sua narração durante seus trajetos pela cidade, Patrick Bateman sempre menciona os grandes luxos de Nova York mas também sempre pontua os “mendigos” e pessoas em situação de rua com deboche e violência. O contraste fica nítido e é importante salientar como o protagonista se sente incomodado a ponto de mencionar essas pessoas, mas não se dar ao trabalho de descrever características físicas de amigos e conhecidos, por exemplo. As cenas envolvendo essas pessoas em situação de rua são algumas das mais angustiantes e aterrorizantes de todas. 

Bret Easton Ellis sabe como deixar o leitor tenso a todo momento. Mesmo que por quase um quarto do livro não exista nenhuma descrição violenta ou nenhum ato violento cometido pelo protagonista, ficamos no limiar da tensão, apenas esperando o momento em que Patrick Bateman revelará suas facetas malignas e sociopatas. Quando isso começa a acontecer, em diversos momentos é necessário fazer uma mais que necessária pausa na leitura, principalmente a partir da metade do livro. Psicopata Americano se torna cada vez mais explícito e os acontecimentos vai se desdobrando com mais rapidez e crueldade. 


A escrita de Bret Easton Ellis é um deleite para quem gosta de estudar estruturas narrativas e fluxo de pensamento. O autor sabe exatamente quais recursos usar para fazer o leitor sentir exatamente o que ele quer e colocar o leitor na pele de Patrick Bateman. Enxergar a história através das lentes do capitalismo é uma forma de fazer com que entendamos a forma como o mundo de Bateman funciona. 

A falta de pontos finais ou enormes blocos de texto, sem divisão de parágrafos, em determinados capítulos faz com que o leitor sinta o ritmo frenético da mente do protagonista quando ele vive um frenesi. Começar alguns capítulos específicos sem letras maiúsculas e terminá-los no meio de uma frase deixa o leitor tão perdido em relação à cronologia de alguns fatos e dias quanto o próprio Patrick Bateman. E isso se torna cada vez mais frequente a partir da segunda metade do livro, quando o protagonista começa a mergulhar em um intenso frenesi e se torna impossível dizer com certeza o que é fato e o que é delírio. 


Psicopata Americano é um livro bem forte e difícil de digerir. A escrita de Bret Easton Ellis é impecável, mas a narrativa em si pode ser difícil para muitos públicos, principalmente no que diz respeito às descrições, em primeira pessoa, de violências brutais e explícitas. É um livro que com certeza ficará na minha mente por muito tempo. 

Gostou da resenha e quer conhecer outro livro envolvendo serial killers? Então confira a resenha de Lady Killers!


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