Resenha: Pessoas Normais

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Pessoas Normais é um livro que tem feito barulho desde que foi lançado. Entrando para a lista de favoritos de muitos leitores, Pessoas Normais também causa desconforto ao abordar a elasticidade do primeiro amor em meio às sutilezas das classes sociais e dos problemas familiares. Saiba mais na resenha de Pessoas Normais!

"Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes – contudo, um deles está determinado a esconder a relação.

Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado."

FICHA TÉCNICA
Título
: Pessoas normais
Autora: Sally Rooney
Ano: 2019
Páginas: 264
Idioma: Português
Editora: Companhia das Letras
Nota: 3,5/5
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Pessoas Normais se trata de uma história de amor entre um casal cujas vidas estão entrelaçadas desde a adolescência, mas não é um romance clichê, como pode parecer. É importante ajustar as expectativas para não esperar um enredo aos moldes do que encontramos em grande parte dos livros comerciais.

Pessoas Normais causa um certo desconforto, seja pela narrativa da autora, seja pelo desenvolvimento emocional e psicológico dos protagonistas, e não tem como objetivo se encaixar nos padrões do que se espera de uma história de amor. Pessoas Normais é um livro cru, que aborda as relações interpessoais ao mesmo tempo em que nos questiona a forma como somos vistos pelos outros e como vemos a nós mesmos.

"Por alguns segundos, ficaram ali no silêncio, seus braços em volta dela, sua respiração na orelha dela. A maioria das pessoas viveriam suas vidas inteiras, Marianne pensou, sem nunca se sentirem tão próximas de alguém."


Encontros e desencontros seriam duas palavras perfeitas para descrever Pessoas Normais. O enredo se baseia todo em momentos em que as vidas de Marianne e Connell se cruzam apenas para se separarem de novo. E a narrativa segue bem essa espiral de acontecimentos, com grandes e constantes saltos no tempo ao longo de todo o livro. Pessoas Normais não se baseia nem na história de Marianne, nem na de Connell, mas nos momentos que eles passam juntos.

O livro altera a narrativa em terceira pessoa, com cada capítulo sendo focado de forma parcial ora em Marianne, ora em Connell. É uma forma interessante de deixar a narrativa mais dinâmica e cativar o leitor. O tempo também varia de acordo com o momento, com cenas do presente sendo constantemente interrompidas para voltar a algumas do passado.


Algo que me incomoda bastante na estrutura narrativa é a escolha de colocar diálogos sem pontuações para identificá-los além de vírgulas, e vários deles em um mesmo parágrafo. A história do livro como um todo é bem fluida, o que faz com que não seja difícil fazer a narrativa fluir, mas essa escolha estrutural pode deixar a leitura um tanto quanto desagradável para quem está acostumado a um texto mais organizado.

A autora não tem uma escrita muito descritiva, mas é interessante observar suas escolhas ao chamar a atenção do leitor para pequenos detalhes, como gestos dos personagens. É uma forma de torná-los ainda mais reais, de mostrar alguns traços de personalidade sem precisar se delongar muito, e de fazer sua escrita mais visível de forma sutil.

"Não sei o que há de errado comigo, diz Marianne. Não sei por que não consigo ser que nem as pessoas normais.
A voz dela soa bizarramente fria e distante, como uma gravação de sua voz reproduzida depois que ela já foi embora ou partiu para outro lugar."


Pessoas Normais é um livro sem altos e baixos, toda a narrativa é construída em um mesmo ritmo, de forma constante. Ao contrário de histórias em que cada capítulo deixa um cliffhanger ou cada capítulo tem seu próprio ciclo de clímax e descidas, em Pessoas Normais temos uma narrativa extremamente linear. Pela história em si isso não incomoda porque faz sentido no contexto dos personagens, que refletem momentos que o próprio leitor pode se identificar. Além disso, a escrita de Salley Rooney é envolvente à seu modo e faz com que Pessoas Normais seja um livro gostoso de mergulhar e passar as páginas.

"Existe nela algo de amedrontador, um enorme vazio no fosso de seu ser. É como esperar o elevador chegar e quando as portas se abrem não há nada, somente o terrível vácuo negro do poço do elevador, eternamente. Falta a ela um instinto primitivo, autodefesa ou autopreservação, que torna os outros seres humanos compreensíveis. Você se escora esperando resistência e tudo se dissolve bem na sua frente. Porém, se deitaria e morreria por ela a qualquer momento, o que é a única que sabe a respeito de si mesmo que lhe provoca a sensação de que ele é uma pessoa que vale a pena."

Uma das características mais marcantes de todo o enredo é a falta de comunicação entre Marianne e Connell. A carga emocional do livro é bem forte e é o elemento central da narrativa, então fica explícita a forma como os dois não conseguem se entender em diversos momentos de suas vidas pelo simples fato de não saberem se comunicar com clareza. Nem sempre é fácil encontrar as palavras e os jeitos certos de expressar pensamentos e momentos tão íntimos, mas isso fica muito evidente no livro e acaba sendo, por diversas vezes, um pouco desesperador para o leitor mais envolvido.


Pessoas Normais é um daqueles livros que trazem uma carga emocional intrínseca à narrativa. A história em si não tem nada de mais, nem nos acontecimentos, nem nos protagonistas, nem no desenvolvimento da trama como um todo, mas Sally Rooney consegue deixar o leitor com um aperto no peito e um nó na garganta típicos de quem se identifica com determinada situação ou experiência. Por isso penso que o título do livro tenha sido pensado não apenas para fazer referência a algumas reflexões e diálogos dos personagens, mas por ser um e redo capaz de tocar o leitor pelo reflexo da realidade.

A história pode despertar alguns gatilhos não apenas pelos comportamentos dos personagens, mas pelos pensamentos e reflexões dos protagonistas. Alguns dos diálogos e das questões levantadas são bem fortes, bem vicerais, e, por mais que seja exatamente isso que difere o livro e dá força à escrita, pode ser algo sensível para alguns leitores.


Acredito que meu maior problema com o livro tenha sido as altas expectativas em relação à história. Como o hype do livro estava tão alto e a divulgação tão pesada, pensei que teria em mãos um livro absurdamente avassalador, o que não aconteceu. Acredito que teria gostado bem mais se tivesse encontrado por acaso.

Pessoas Normais já rendeu uma série lançada pela Hulu, mas ainda sem previsão de estreia aqui no Brasil. Mesmo não tendo sido uma história que me deixou extremamente envolvida e apaixonada pelas personagens, é um enredo que com toda certeza vale a aposta na adaptação e estou curiosa para poder conferir Pessoas Normais fora das páginas do livro.

Gostou da resenha e quer conhecer outro livro interessantíssimo? Então confira a resenha de O Diário de Nisha!

"Os olhos dela se enchem de lágrimas outra vez e ela os fecha. Até nas lembranças ela achará esse momento insuportavelmente intenso, e tem consciência disso agora, enquanto ele acontece. Nunca se achou digna de ser amada por alguém. Mas agora tem uma vida nova, da qual este é o primeiro momento, e mesmo depois que muitos anos se passarem, ela ainda vai pensar: Sim, foi aí o começo da minha vida." 


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