Resenha: Os Monólogos da Vagina

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Monólogos da Vagina é um manifesto que mudou a vida de milhares de mulheres ao redor do mundo. Apresentados por Eve Ensler pela primeira vez há vinte anos, esses monólogos foram responsáveis por dar vida ao V-Day, um movimento global para eliminar a violência contra mulheres e meninas. A edição comemorativa de 20 anos da GloboLivros traz esses textos que rodaram o mundo e marcaram uma geração.

Leia a resenha e entenda porque Monólogos da Vagina é um livro obrigatório na sua lista de leituras!

"Publicado em 140 países, Os monólogos da vagina marcou toda uma geração com a visão hilariante e reveladora de Eve Ensler a respeito do que até então era considerada uma zona proibida, “aquela-que-não-devia-ser-nomeada”, um mistério até mesmo para as próprias mulheres.
Adaptada a partir da premiada peça teatral off-Broadway que se tornou sucesso absoluto em todo o mundo, tendo inclusive diversas montagens no Brasil, esta obra revolucionária reúne uma série de histórias luxuriosas, emocionantes, singelas e, sobretudo, humanas, que transformaram o ponto de interrogação que costumava pairar sobre a anatomia feminina em um permanente sinal de vitória.
Vinte anos depois de seu lançamento, Eve Ensler mostra, em um prefácio inédito, por que o seu texto continua mais atual – e necessário – do que nunca. Mesclando gargalhadas e lágrimas, a autora transporta seu público para um universo que ainda hoje muitos hesitam em desbravar, garantindo que qualquer um que leia Os monólogos da vagina jamais volte a olhar para o corpo de uma mulher da mesma maneira."


FICHA TÉCNICA
Título
: Monólogos da Vagina
Autora: Eve Ensler
Ano: 2018
Páginas: 208
Idioma: Português
Editora: GloboLivros
Nota: 5/5 
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA




Os Monólogos da Vagina mudaram a forma como milhares de mulheres olham para seus próprios corpos e para sua própria vida como seres do sexo feminino. Há mais de 20 anos Eve Ensler transformou a vida de mulheres do mundo inteiro que passaram a enxergar seus corpos femininos como uma linda e empoderadora parte de si.

O livro começa com um preâmbulo de Jacqueline Woodson que explica um pouco sobre a importância do pensamento de Eve Ensler e como ele, revolucionário à época, continua extremamente relevante. Ela faz, inclusive, uma referência ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como uma forma de mostrar que os ataques às mulheres e sua condição como gênero feminino ainda são constantes, misóginos e preocupantes. 

"Minha vagina anda furiosa". Sério. Puta da vida. Minha vagina anda revoltada e precisa falar. Precisa falar dessa merda. Precisa falar com você. Sabe, como assim? Tem um exército de gente por aí inventando tudo quanto é jeito de torturar a coitada da minha vagina tão tranquila, tão boazinha... Gente que perde tempo criando produtos doentios e ideias ridículas pra sabotar a minha buceta. Uns inimigos desgraçados da vagina." Página 63




Eve começa a apresentar os Monólogos da Vagina falando sobre a importância de se tomar posse do nome “vagina” ao falarmos de nossos corpos. Segundo ela, atos de resistência começam com a fala e é necessário que saibamos a importância de nomear, sem vergonha e sem pudor, nossas partes como elas são, mesmo que a história tenha nos ensinado a reprimir cada impulso relacionado às nossas vaginas. Para a autora e ativista, simplesmente começar a se familiarizar com a palavra “vagina” é uma forma de abrir portas para reflexões relacionadas à opressão das mulheres e à libertação dos nossos corpos. 

Alguns capítulos são intercalados com os “Fatos da Vagina”, curtos parágrafos que abordam dados e estatísticas relacionados à genitália feminina, seja por meio do uso do termo “vagina”, seja ao abordar a mutilação genital feminina, seja falando sobre a “descoberta” do clitóris, seja exemplificando a capacidade feminina de ter um orgasmo em relação à dos homens etc. É uma forma de familiarizar as mulheres a respeito de suas vaginas, transformar a vagina em um objeto de estudo e, dessa forma, concretizar sua existência como objeto de análise. Talvez, ao transformar reflexões em dados estatísticos, as pessoas comecem a entender a importância de se falar sobre a vagina não apenas como uma parte do corpo humano, mas como símbolo de libertação. 


Os capítulos são bem curtos (trazendo características da dramaturgia, tão familiar à Eve), com os maiores tendo pouco mais de 5 páginas, e falam sobre diversos acontecimentos e reflexões relacionados à vagina. Para compor parte d'Os Monólogos da Vagina, Eve entrevistou mais de 200 mulheres a respeito de suas partes íntimas, trazendo à tona temas que vão desde a primeira menstruação e o primeiro orgasmo (ou a inexistência dele), passando pela pressão pela depilação dos pelos pubianos, até traumas relacionados à violência sexual. 

Em determinado capítulo Eve transcreve parágrafos de fala de algumas das entrevistadas a respeito de uma memória relacionada à vagina. É interessante ter contato com as mais diversas maneiras com as quais as mulheres viveram acontecimentos marcantes relacionados às suas vaginas, mostra como a pluralidade de experiências e ideias sobre o que é ser mulher e o que é feminilidade se expandem para nossas partes íntimas. Infelizmente, também é assustador perceber como a maior parte dos relatos está relacionada a algo ruim, seja algum tipo de violência física, seja por meio da repressão absurda de tudo o que é relacionado à vagina, desde a infância. Isso reforça a característica de manifesto de Monólogos da Vagina e serve como um wake up call para homens e mulheres. 

"Minha esperança é de que, através dessas histórias de sofrimento feminino, essas mulheres encontrem a cura; que, vendo o que lhes tirou a luz, elas possam se tornar visíveis, honradas e protegidas agora e sempre." Página 89


Monólogos da Vagina também é um manifesto de libertação. Eve Ensler traz à tona traumas e violências de forma crua e intensa, mas também busca devolver a voz de mulheres silenciadas pela vida ao mostrar que elas podem - e devem - falar sobre suas vaginas. A libertação começa no momento em que fazemos as pazes com nossos corpos e aceitamos a condição de mulheres como um presente, como algo lindo e perfeito. Porque nossos corpos são perfeitos, cada um com suas formas, curvas e nuances.

Eve não pega leve. Não ameniza. Não suaviza. Ela diz o que precisa ser dito. Relata o que contaram da forma que narraram. Ela não filtra, não esconde, não guarda. É preciso falar sobre o “elefante no quarto”, ainda mais se esse elegante é uma das coisas que nos faz nos enxergamos como mulheres. E o melhor jeito de fazer isso é falando o máximo possível, naturalizando aquilo que deveria ser normal desde sempre. 

Meus capítulos favoritos são aqueles em que ela pede poucas palavras como resposta para sua perguntas. São questões que a princípio podem parecer estranhas, engraçadas ou invasivas, mas que rendem respostas inspiradoras. Algumas entrevistadas respondem de forma tão carnal quanto pedia a pergunta, outras dão respostas tão inspiradoras, mesmo em menos de cinco palavras, que me peguei fitando as páginas por alguns minutos absorvendo aquilo.


Monólogos da Vagina trazem um misto de sensações. Ao mesmo tempo em que alguns capítulos me arrancaram risadas e me fizeram sentir como se estivesse trocando experiências com minhas melhores amigas, também me fizeram sentir raiva e indignação por tudo o que as mulheres passaram e passam distraidamente pelo simples fato de não terem nascido com um pênis entre as pernas. A violência contra a mulher pelo simples fato de ser mulher é algo que não cansa de me apavorar e Eve Ensler trabalha essa questão ao amplificar as vozes de mulheres do mundo inteiro. Ela mostra como a violação e o assédio fazem parte da rotina das mulheres, sejam elas americanas, asiáticas, africanas, europeias, brancas, negras, índias, cis, trans, lésbicas, bi. A violência contra a mulher é tão universal quanto à condição de ser mulher, o que varia é a intensidade na qual ela se faz presente. 

É um livro muito difícil de ler porque te coloca na pele de outras mulheres que sofreram violências inimagináveis nas mãos daqueles que consideram o feminino algo inferior, que precisa ser subjugado, humilhado, violentado. É um livro difícil de digerir porque escancara tudo aquilo de ruim que a humanidade faz as mulheres passaram diariamente, em todo o mundo, todas as culturas, todos os lugares, em todas as idades. Mas ao mesmo tempo é um livro fácil de ler porque te devolve seu corpo, sua condição de mulher, sua esperança, sua feminilidade, sua força. Sua liberdade.


Eve fala de forma extremamente honesta e crua. Ela não mede palavras, não passa pano, não esconde. Em Monólogos da Vagina ela escancara as discussões de maneira muito pessoal, sem perder o tato. Monólogos da Vagina nos faz repensar a maneira como olhamos para nós mesmas, traz à tona concepções enraizadas que se escondem na forma de traumas, dá luz a angústias e incômodos antigos, e ajuda a trazer liberdade para as mulheres. 

Ao final do livro, por meio das palavras de Susan Celia Swan, somos apresentados ao V-Day, o movimento que nasceu do poder dos Monólogos da Vagina. “O movimento usa arte e ativismo não só para despertar, educar e inspirar, mas também para provocar, resistir e perturbar. Promove a união das lutas interconectadas das questões raciais, econômicas, ambientais, de calasse e de guerra sob a lente da “solidariedade” e “exploração” e a ótima da transformação revolucionária.” A diretora executiva do V-Day usa essa parte do livro para demonstrar o impacto que esse movimento causou e vem causando em mulheres do mundo todo, tudo por causa da força das palavras de Eve Ensler. É inspirador reconhecer tantas frentes de batalha pela vida das mulheres que fazem uso da arte para devolver suas vozes e demonstrar resistência. 

"Tudo começou com uma série de monólogos incríveis, mas se tornou um movimento global feito com energia e determinação, que cruzou continentes para exigir uma só coisa: libertação de todas as nossas irmãs. Com o V-Day inaugurando seu vigésimo ano, nós continuamos na busca por um mundo em que mulheres e meninas possam prosperar, e não só sobreviver." Página 185


Monólogos da Vagina é um livro para ser devorado de uma vez. Quando comecei não consegui parar de passar suas páginas e mergulhar na narrativa de Eve. Não é difícil imaginar essa narrativa sendo falada por meio de uma peça, mas poder tê-la nas mãos em formato de livro para ler e reler é ainda mais poderoso. Transformar os Monólogos da Vagina em um livro é uma maneira de aumentar ainda mais o alcance dessas palavras e levar uma forma de liberdade para mulheres que ainda não puderam ter contato com esse movimento. As palavras de Eve Ensler escancaram toda a violência que uma mulher pode sofrer e ajudam a devolver o poder para as sobreviventes. Eve ajuda a tirar as mulheres do papel de vítima e as coloca como sobreviventes e protagonistas de suas vidas. Monólogos da Vagina ajuda a devolver o controle para sobreviventes de violência e mostra que cada mulher tem o poder sobre seu próprio corpo e, acima de tudo, sobre sua própria vida.


É um alívio inegável perceber que existem mulheres por aí lutando por mudança para outras mulheres. Isso mostra que não estamos sozinhas em nossas inseguranças. Nossos medos, anseios e traumas não são nossos, não nos definem, não são o que somos de verdade. Monólogos da Vagina ajuda a fazer com que cada mulher entenda seu corpo, se reconheça como mulher, ame sua condição e pegue de volta o controle da sua vida sabendo que não está sozinha. Eve Ensler deu um presente para a humanidade ao falar sem pudor. Monólogos da Vagina fez um favor para mim ao nomear medos, escancarar anseios e estender a mão. Que todas possamos das as mãos e falar abertamente sobre nossas vaginas, nossos corpos, nossas vidas. Nós vamos mudar o mundo. 

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"Quando você rompe o silêncio, descobre quantas outras pessoas viviam esperando uma permissão para fazer o mesmo. Nós - todos os tipos de mulheres, cada uma de nós, e nossas vaginas - nunca mais seremos silenciadas." Página 14



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