Resenha: Estado Elétrico

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Estado Elétrico é um quadrinho diferente de tudo que eu já vi. Um formato inusitado, um trabalho gráfico impressionante e uma história surpreendente pelas mãos de Simon Stålenhag. Saiba mais sobre Estado Elétrico

FICHA TÉCNICA
Título: Estado elétrico
Autor: Simon Stålenhag
Páginas: 144
Ano: 2022
Editora: Quadrinhos na Cia (Companhia das Letras)
Nota: 4
Compre: Amazon
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA

"Numa mistura delirante de On the road e Black Mirror, o artista sueco Simon Stålenhag cria um livro único. Uma viagem visual a um futuro aterrador e sombrio.

Num 1997 imaginado e apocalíptico, uma jovem em fuga e seu robô atravessam os Estados Unidos rumo ao oeste. Ruínas de gigantescos drones de batalha se espalham pela paisagem, junto a toda espécie de lixo descartado de uma sociedade ultra tecnológica e consumista em declínio. À medida que se aproximam da fronteira do país, o mundo parece se desfazer num ritmo cada vez mais alucinante, como se em algum lugar além do horizonte o núcleo oco da civilização finalmente fosse desabar. Em Estado elétrico, Simon Stålenhag volta sua visão atordoante para a América. Com desenhos hiper-realistas e um talento extraordinário para narrar, o artista sueco coloca em cena uma história de amizade e horror, lealdade e suspense, em que uma sensação de constante ameaça paira sobre cada sequência e imagem."


A narrativa de Estado Elétrico é contada da perspectiva de uma possível sobrevivente ou fugitiva, que dirige um carro roubado pelas estradas de um país apocalíptico. As pessoas foram praticamente sugadas por projetores neurais que oferecem algum tipo de experiência alucinógena, proporcionando um escape para outra realidade. Ela caminha pelas ruínas de antigos drones de guerra. Todo o país se tornou um campo de batalha abandonado.

A protagonista é imune aos efeitos dessa tecnologia, mas não às consequências em um mundo devastado. Uma narradora desconhecida traz insights mais objetivos e informações concretas sobre o que levou o mundo àquele estado. Ela me lembra bastante a de O Conto da Aia, trazendo alguns recortes de uma vida passada enquanto navega pelo presente da melhor forma possível, tentando sobreviver. 


“É preciso dizer: eles eram fantásticos. Algo em mim tinha vontade de parar o carro, descer e caminhar até eles para tocá-los, examinar de perto cada um daqueles estranhos tumores. Em outra realidade, eu teria adorado fazer isso. Teria caminhado sem pressa por essas ruas, fascinada, certamente sentindo alguma repulsa, mas uma repulsa agradável, extasiada. Agora, no mundo real, tudo estava invertido. Nós éramos os tumores fascinantes, os lunáticos - as únicas almas doentes em um mundo sadio. Não havia nenhuma espécie de vida cotidiana protegida à qual pudéssemos retornar, e a única saída era seguir em frente.”


Sem balões, caixas de texto ou letreiramento, Simon Stalenhag nos carrega pelas páginas como se fossem pinturas com uma descrição. Uma única imagem ocupa praticamente as duas páginas, na horizontal, e uma coluna branca é dedicada ao texto, ora normal para a narração da protagonista, ora em itálico para possíveis registros de um diário desconhecido. 

Em alguns momentos o texto descreve a imagem de forma a contextualizá-la para o leitor. Em outros, a medida que a narrativa avança, texto e imagem caminham de forma independente, completando as lacunas da história que cabem ao leitor interpretar. 



Estado Elétrico é visualmente impressionante. O estilo de Simon mais se parece fotografia do que ilustração. Cada imagem traz uma sensação inegável de movimento, como se ele tivesse registrado uma fração de tempo, e não criado aquele mundo do zero. A riqueza de detalhes, de profundidade, de realismo faz com que a experiência de ler uma ficção científica sistólica seja ainda mais intensa.

Ao acompanhar a história nesse formato, temos a sensação de estar olhando para quadros em um museu, acompanhando uma linha do tempo de uma civilização em ruínas. 


Estado Elétrico não tem um começo, meio e fim. Ao leitor só é permitido entrar para espiar uma página dessa história, um fascículo desse mundo distópico e apocalíptico. A dependência tecnológica, o vício em estímulos artificiais e a desconexão com a realidade infelizmente encontra um eco no nosso mundo e nos faz refletir, como toda boa ficção científica, qual a real distância entre a ficção e a realidade.

Estado Elétrico é uma experiência de leitura. Uma história perfeita para os fãs de sci-fi e de trabalhos gráficos incríveis. Um quadrinho diferente de tudo que já li. 

Gostou da resenha e quer conhecer outra distopia nos quadrinhos? Confira a resenha da adaptação de 1984


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1 comments

  1. Muito diferente mesmo olhando as páginas internas desse livro, um encanto de livro mas bem exótico eu diria.
    Gostei dessa novidade.
    beijos.

    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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