Resenha: Medicina Macabra

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Sabe aquele livro que chega de fininho, mas que te encontra quando você mais precisa? Medicina Macabra foi um achado do primeiro semestre do ano e se tornou um dos meus favoritos até agora. Um livro que me fez rir horrores, me divertiu e me fez arregalar os olhos a cada página. Vem entender um pouco melhor na resenha de Medicina Macabra!

"Enquanto pesquisava para escrever seu primeiro livro, o escritor Thomas Morris fez uma descoberta um tanto quanto… curiosa: entre dissertações cheias de linguagem técnica e textos desafiadoramente longos, pérolas divertidas e grotescas sobre casos bizarros estavam escondidas. Muitos destes relatos eram bons demais para serem esquecidos na literatura médica, e ele decidiu fazer uma seleção irresistivelmente peculiar.

Da Holanda do século XVII até a Rússia czarista, da zona rural do Canadá até um baleeiro no Pacífico, Medicina Macabra é uma reunião de casos insólitos da história da Medicina que ocorreram em um período de trezentos anos. Alguns desses relatos são angustiantes ou comoventes, outros são macabros, mas todos oferecem algo mais além do que uma boa anedota. Por mais constrangedoras que sejam as enfermidades, por mais estranhos que sejam os tratamentos, todos esses casos expressam algo sobre as crenças e a sabedoria de uma época.

Uma família inteira sofrendo de dores e que decidiu amputar as pernas para acabar com o sofrimento. Uma paciente com ataques histéricos que recitava Goethe e Shakespeare. Qual foi a última vez que um de seus dentes explodiu? E quando você comeu uma alface fresca e dois dias depois lesmas saíram pela sua boca? Medicina Macabra traz relatórios de casos verídicos, escritos por médicos que relataram aquilo que viram e fizeram, obtidos a partir de livros, panfletos, cartas e bilhetes.

Remédios irremediáveis, curas extraordinárias, cirurgias que tinham tudo para dar errado, casos insólitos e lamentáveis embaraços: está tudo aqui. Medicina Macabra é feito sob medida para os darksiders de estômago forte, narrado com aquela injeção de humor que não poderia faltar. Você está pronto para dissecar essas excentricidades do passado? Você é uma pessoa macabra?"


FICHA TÉCNICA
Título: Medicina Macabra
Autor: Thomas Morris
Ano: 2020
Páginas: 432
Idioma: Português
Editora: DarkSide Books
Nota: 5/5
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA




Medicina Macabra reúne uma coletânea de casos registrados em revistas e periódicos médicos ao longo de 300 anos, desde o índio do século 18 até a virada do século 20. Nesse ínterim. A medicina mudou muito, passando por uma transformação que fez de sua arte uma ciência. A maioria dos casos do livro saiu de revistas médicas, que proliferaram no fim do século 18 e eram uma das principais maneiras pelas quais a classe médica compartilhava conhecimento e trocava experiências. Além das revistas, matérias de jornais também ajudam a engrossar o conteúdo do livro.

“Ainda que superstições e tradições folclóricas tenham influenciado a medicina por um bom tempo, o passado também revela a existência de médicos capazes de encontrar soluções e aplicar tratamentos bem sofisticados. Por isso, comecei a juntar os incríveis relatos que encontrei pelos cantos esquecidos da literatura médica: histórias de tratamentos bizarros, cirurgias de cair o queixo e recuperações milagrosas depois de uma quase certeira sentença de morte.” Página 21



A primeira parte do livro já começa com um capítulo inteiro dedicado à “vergonha alheia”, aos casos de incríveis peripécias e criatividade com que algumas pessoas se envolvem nas situações mais bizarras e ridículos e cabem aos médicos resolvê-las. Esse capítulo por si só poderia servir de inspiração para diversas séries médicas modernas. Como o próprio autor diz, não importa quanto tempo se passe, o ser humano parece ter uma capacidade nata se não evoluir nesse ponto.

Com o passar dos anos os médicos foram descobrindo doenças novas para enfermidades desconhecidas até então. Em 1893, a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde listava apenas 161 doenças diferentes, em comparação com as mais de 30 mil conhecidas atualmente. Ou seja, por muito tempo as pessoas morriam de causas misteriosas e esse é o foco do capítulo 2: Insólita Medicina, que deixa de lado um pouco do humor do capítulo anterior e abre espaço para casos curiosos. Já o capítulo três, Remédios Irremediáveis, fala sobre os tipos de remédios usados nos séculos passados e formas catastróficas de tratamento que incluíam excrementos, sangrias e medidas drásticas e nem um pouco efetivas. Quando você chega no capítulo “histórias macabras” você já está tão embasbacado com todas as histórias anteriores que qualquer um desses casos, por mais incríveis que pareçam, acabam podendo ter um fundo de verdade.



Além de apresentar os casos, Thomas Morris contextualiza brevemente momentos históricos e contextos relacionados à época em que os casos aconteceram e alguns dos médicos encarregados de cuidar desses casos. Para quem tem interesse na área, é uma boa forma de conhecer esses profissionais (alguns deles sendo referências) e a forma como trabalhavam.

Não bastassem os casos, engraçados por si só, o próprio texto do autor já é carregado de humor e trocadilhos. Thomas Morris traz uma linguagem acessível e ajuda o leitor a traduzir termos próprios da medicina de forma bem tranquila e leve. Sua forma de conduzir o leitor, variando entre citações dos textos médicos e suas próprias contribuições deixam a leitura bem agradável e divertida. E, nesse caso, é preciso exaltar a tradução muito bem feita, que trouxe de forma perfeita os trocadilhos do inglês para o português de um jeito muito natural e crível.



Medicina dos Horrores foi um livro que me interessou bastante e me surpreendeu muito. uma vez que não é o tipo de livro que costumo ter como prioridade de leitura. Medicina dos Horrores conta a história de Joseph Lister, um médico que revolucionou a medicina com suas descobertas e trabalho. Um livro que contextualiza bastante a medicina nos séculos passados, principalmente na era Vitoriana, e que leva o leitor por uma viagem incrível pelas descobertas médicas que nos permitiram chegar onde estamos hoje. Já em Medicina Macabra temos um livro tão interessante quanto, se não mais. Thomas Morris reúne vários casos peculiares, bizarros, cômicos e inacreditáveis da medicina desde o século 18. São duas leituras que conversam bastante e se complementam de forma bem interessante.

“Ainda que a medicina tenha evoluído de forma impressionante nos últimos séculos, certas coisas nunca mudam. Aparentemente, nem o progresso é capaz de fazer a humanidade deixar para trás seus traços de maldade, desgraça e completa idiotice.” Página 27



Como os relatos são bem curtos e passa-se rapidamente para o próximo, o ritmo de leitura do livro é bem rápido e é um daqueles livros cuja leitura pode ser interrompida sem problemas. Lia entre tarefas, quando fazia uma pausa no outro livro que eu estava lendo, quando só tinha alguns minutinhos, quando queria ler alguns capítulos antes de dormir etc. O fato de as histórias serem tão diferentes entre si também ajuda a dar mais ritmo à leitura. 

A cada breve descrição do caso eu já sentia minhas sobrancelhas se erguendo de surpresa, e quanto mais eu lia a respeito e mergulhava no contexto, mais impressionada eu ficava. Só posso dizer que fico muito feliz de ter nascido no final do século XX e de ter acesso a uma medicina minimamente mais evoluída. 




Falar sobre as edições da DarkSide Books é algo obrigatório nas resenhas que escrevo da editora, mas Medicina Macabra supera todas as expectativas em relação aos livros da Caveirinha. Além da capa extremamente chamativa e muito bem pensada, Medicina Macabra traz uma riqueza de detalhes impressionante em seu projeto gráfico, desde a ficha de créditos, com um trocadilho maravilhoso, até as notas de rodapé, diagramadas com um detalhe em cruz no lugar dos números. A fonte escolhida para o texto do livro também deixa as páginas bem elegantes, com um tom clássico, semelhante às das edições de Alice no País das Maravilhas. 

As aberturas de capítulo e as páginas dedicadas aos títulos dos casos são um deleite à parte. Um projeto gráfico com duas cores no miolo, preto e vermelho, combinou perfeitamente com a proposta do livro e faz com que passar as páginas seja uma experiência por si só. Assim como Inferior é o car*lhoMedicina Macabra é um livro de colecionador para o leitor, valendo ser lido não apenas por seu conteúdo riquíssimo, mas por sua estética impecável. 



Medicina Macabra é um livro que já entrou para a minha lista de favoritos do ano e é uma das minhas edições favoritas da vida. Um livro que me fez rir quando eu precisava, que me tirou do momento que estamos vivendo e mostrou como a literatura pode ser extremamente enriquecedora, não importando a forma como ela se apresenta e qual conteúdo ela traz. Um livro riquíssimo, engraçadíssimo e maravilhoso. 

Gostou da resenha e quer conhecer outro livro do gênero? Então descubra a Medicina dos Horrores!

“A vida pode ser frágil, ainda assim há diversos casos na história da medicina que demonstram que somos capazes, em certas ocasiões, de superar até o pior dos ferimentos. Muitas dessas recuperações são atribuíveis à devoção ou ao engenho de um médico comprometido. Alguns pacientes, entretanto, podem ter melhorado apesar do, e não graças ao, tratamento que receberam.” Página 250








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