Resenha: Solteirona
Solteirona foi um livro que me chamou a atenção logo de
cara. Além da capa divertida e bem chamativa, a ideia de "pelo direito de
escolher a própria vida" tem tudo a ver com o discurso feminista atual. O
livro tinha tudo para ser simplesmente fantástico, mas foi longe de ser
assim.
“Com quem se casar e quando: essas
duas questões definem a existência de toda mulher, provoca a autora logo no
início de Solteirona. Em uma análise inteligente e bem-vinda dos prazeres e
possibilidades de ficar solteira, a jornalista e crítica cultural Kate Bolick
parte da própria experiência para ponderar o porquê de mais de cem milhões de
americanas hoje preferirem ficar solteiras.
As projeções apontam que esse número
só tende a crescer, mas, mesmo assim, uma mulher passar batida pelos vinte,
trinta anos sem se casar continua sendo uma questão mesmo, e talvez
principalmente, se isso for uma escolha deliberada. Decidida a fincar pé na
solteirice, Bolick apresenta um elenco de personalidades femininas do último
século que, pela genialidade e determinação, são inspirações para sua escolha:
a colunista Neith Boyce, a ensaísta Maeve Brennan, a visionária Charlotte
Perkins Gilman, a poeta Edna St. Vincent Millay e a escritora Edith Wharton. Ao
destacar a trajetória nada convencional dessas mulheres, Bolick faz lembrar
quão atemporal é o dilema a respeito de se casar e ter filhos e levanta uma
pauta ainda mais crucial nessa discussão: o direito de escolher a própria vida.
Intensamente pessoal e bem embasado,
Solteirona é ao mesmo tempo um inquietante livro de memórias e uma ampla
análise cultural dessa encruzilhada que não deveria, mas tanto interfere no
universo feminino. Uma defesa da liberdade da mulher de ser autêntica e fiel às
inúmeras possibilidades de futuro que ela pode e deve projetar para si mesma.
Se será um futuro construído a duas ou a quatro mãos, só a ela cabe decidir.”
Solteirona começa
de um jeito extremamente interessante. Kate Bolick apresenta vários fatos a
respeito da fama que as mulheres solteiras têm, dados históricos e pensamentos
que não haviam passado pela minha cabeça sobre esse assunto. Kate conta como
mulheres solteiras são vilanizadas para justificar a maioria que muitas vezes
não pode escolher não se casar. Mulheres que escolhem fugir dos padrões de
matrimônio aos trinta anos, são vistas de forma extremamente estereotipada.
"Vou morar sozinha com vários gatos", é uma frase usada em tom de
brincadeira e disseminada por todos. Kate critica a energia ruim em volta de
toda a ideia do estado civil das mulheres ao longo dos anos. Um fato
interessante citado pela autora diz respeito à definição de solteira pelas
questões legais. A lei define a mulher solteira pelo que lhe falta (um marido)
e não por sua liberdade. Kate também se posiciona de uma forma extremamente
firme e decidida, alguns trechos são realmente muito bons, como: "A
cultura nos diz que uma solteirona é uma mulher sem futuro - sem herdeiros para
parir, ninguém para se lembrar dela quando se for -, não uma mulher que corre na
direção dele." Entretanto, parece que logo depois de algumas páginas, o
livro de perdeu completamente.
Confesso que foi bem difícil ler com prazer o livro de
Kate Bolick. Me parece que o livro foi perdendo o propósito ao longo da
escrita, e o que tinha tudo para ser um manifesto feminista se tornou apenas
uma narrativa bem entediante a respeito da história de cinco mulheres que Kate
Bolick considera como suas “despertadoras”. Os textos e poemas escritos por
essas cinco mulheres aparecem em diferentes momentos da vida da autora e são
responsáveis por ajudá-la a entender e conviver com seu desejo de ficar
solteira e/ou de não ser obrigada a se juntar a alguém para sempre. Kate passa
a maior parte do livro apenas contando a história dessas mulheres, incluindo
algumas partes dispensáveis que não acrescentam muito ao livro, como a descrição
completa de cômodos das casas de suas despertadoras e citações irrelevantes.
A
princípio ela consegue intercalar melhor o relato de momentos de sua vida e das
escritoras e poetas, mas já na metade do livro ele se torna quase que uma
biografia de cada uma delas. O livro se torna extremamente monótono, muito
cheio de detalhes para serem absorvidos – grande parte que não acresenta nada –
e a leitura perde completamente a graça.
Como
já foi dito, o começo do livro é bem interessante e as notas de fim de página são
muito úteis, elas trazem informações que parecem acrescentar mais do que a
leitura em si. Um ponto forte é a maneira como Kate Bolick contextualiza a
história americana em algumas partes, é possível extrair informações bem
interessantes.O final do livro parece retornar um pouco a ideia do começo, de
ser uma relfexão acerca de um assunto que inflinge várias mulheres do nosso
tempo. Mas parece que, para concluir, a autora pula uma fase de sua vida, o que
deixa uma certa confusão. O livro termina bem, mas faltou um pouco mais de
capricho para chegar até lá.
É
inegável que a autora escreve bem e é uma
mulher culta, inteligente, mas é uma
pena que ela não tenha conseguido desenvolver um livro que seja envolvente o
suficiente para prender o leitor. Gosto de livros que te fazem refletir,
mergulhar em uma realidade diferente e cativante. O que em grande parte do
livro não aconteceu, só lia e
passava as páginas.
Solteirona não
é um livro que eu indicaria para qualquer um. É preciso ter paciência e extremo
interesse no assunto. Acho que minha maior decepção para com o livro, tem a ver
com minhas expectativas. Pensei que o livro seria mais extrovertido, descontraído
e bem humorado, exatamente como sugere a capa. Achava que seria mais uma reflexão
sobre a mulher solteira, e não necessariamente sobre os dilemas da autora até conseguir se aceitar plenamente como
uma solteirona. Queria que o livro fosse todo como é nas partes iniciais e finais. Interessante, didático e reflexivo.
Solteirona foi escrito por Kate Bolick e publicado pela editora Intrínseca.
Classificação: 2/5
estrelas.
“Enquanto
eu fazia a pesquisa, este livro me ensinou o verdadeiro valor da solteirona;
escrevê-lo me levou a constatar que a questão por muito tempo me impunha – ser
casada ou ser solteira – é um binarismo falso. O lugar no qual sempre quis
viver – na realidade, onde passei minha vida adulta – não fica entre esses dois
polos, mas além deles. A escolha entre ser casada e solteira nem pertence ao
século XXI.
A questão
agora é algo completamente distinto: as mulheres já são gente? O que quero
dizer é: estamos enfim prontos para ver uma jovem iniciar seu caminho pela
longa estrada da vida como um ser humano que habita seu gênero, mas não é
limitado por ele?”
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3 comments
Acho interessante a ideia do livro, mas realmente, alguns livros acabam depositando tanta informação que acabam ficando muito monótonos. Que pena...
ResponderExcluirBeijos
Mari
www.pequenosretalhos.com
Sim, exatamente. E não achei a abordagem das melhores :(
ExcluirÓtima resenha. Um livro que tinha tudo para ser bom, mas me parece um pouco maçante. Amei as fotos.
ResponderExcluirBjos e bom final de semana,
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