Resenha: Fogo e Fúria

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Fogo e fúria, além do mérito de ser um relato real é inédito de alguém que conseguiu conviver tanto tempo com a figura mais caricaturesca dos últimos anos, é um belo relato jornalístico de alguém que conseguiu, durante 200 dias, conviver lado a lado com suas fontes, conquistar sua confiança e observar como uma mosquinha na parede (terão utilizado pelo autor) a história sendo feita e o desenrolar de um furacão político que abalou a política americana de forma nunca vista desde o Watergate.

Quer saber o que achei do livro? Então confira a resenha de Fogo e Fúria:

"Com acesso aos assuntos da Casa Branca, o jornalista Michael Wolff revela os curiosidades de bastidores do governo de Donald Trump, o presidente americano mais alvo de controvérsias da história. Graças ao contato com figuras do governo do país mais rico do mundo, o autor cria um quadro assustador sugerindo despreparo, desorganização, assédios, vaidades e mostra a guerra contra a mídia (que fabrica as fake news), contra o progressista Partido Democrata e até contra alas do conservador Partido Republicano, do próprio presidente."

FICHA TÉCNICA
Título: Fogo e Fúria
Autor: Michael Wolff
Ano: 2018
Páginas: 384
Idioma: Português
Editora: Objetiva (Grupo Companhia das Letras)
Nota: 3/5
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LIVRO CEDIDO EM PARCERIA COM A EDITORA


Fogo e Fúria traz um relato de uma das figuras mais midiáticas dos últimos tempos. É impressionante ver como Donald Trump é um personagem extremamente caricato, é quase inacreditável a forma como ele lida com o governo, com o fato de ser presidente dos Estados Unidos, como ele é um homem extremamente despreparado para o cargo. Sua inteligência deixa a desejar a cada discurso e seu tato social é praticamente nulo. É assustador perceber como tal homem conseguiu chegar ao maior cargo do executivo norte-americano.

É engraçado perceber como a Melania praticamente não é citada no livro, só existe uma menção no começo do livro, quando o autor fala sobre a campanha de Trump e quando fala sobre sua vitória, que retrata como a mulher do futuro presidente dos Estados Unidos ficou aos prantos quando descobriram que ele havia ganhado a eleição, o que ninguém, nem mesmo sua comitiva, esperava. Vimos no governo de Barack Obama uma primeira-dama muito presente, tanto no próprio governo de Obama como braço-direito do presidente, quanto na própria mídia e no entretenimento de forma geral. Durante oito anos de governo, Michelle foi uma figura muito popular, às vezes mais querida que o próprio presidente. Michelle Obama foi uma primeira-dama de expressão e o mesmo não acontece com Melania, o que mostra que nem a própria esposa de Donald Trump se faz presente em seu governo. O relacionamento de Trump e Melania praticamente não é mencionado e é curioso perceber como a própria esposa do presidente não consegue ficar perto, mantendo-se em grande parte do tempo na Trump Tower, em New York.

"Trump não lia. Na verdade, sequer passava os olhos. Se a coisa estivesse impressa, podia perfeitamente nem existir. Alguns acreditavam que, para todos os fins práticos, ele não passava de um analfabeto funcional. Alguns acreditavam que fosse disléxico: sem dúvida porque não era obrigado, o que não deixava de ser um de seus principais atributos como populista. Ele pertencia à sociedade pós-letrada - cem por cento TV." Página 130


Um fato descrito por Michael Wolff que se destaca em meio a tantas polêmicas é o fato da própria equipe de Donald Trump desacreditar na sua vitória durante a campanha presidencial. Era como se sua candidatura fosse muito mais uma jogada de marketing com interesses supérfluos que passava longe de uma empreitada que realmente almejava o cargo mais alto do executivo estadunidense. Wolff relata que, quando o resultado é divulgado e Trump é eleito presidente, todos ficam incrédulos. Não houve um planejamento para depois das eleições, para eles esse depois nunca existiria. Um comentário frequente durante esse período é o de que “está acabando”, ou seja, não existia um futuro previsto para Trump como presidente. Esse mesmo despreparo é refletido nos primeiros anos do governo Trump que tanto enche os noticiários de manchetes escandalosas e dignas de um filme de ficção de mau gosto.

Outra característica que marca a leitura são os conflitos dentro da própria equipe e família de Trump. Muito mais do que relatar o governo de Donald, Michal Wollf acompanhou, por 200 dias, algumas das pessoas que convivem de perto com o presidente e retrata no livro como existem conflitos muito intensos entre essas figuras. Tanto do presidente com seus subordinados, quanto dos funcionários entre si. É um misto de animosidade, pensamentos antagônicos e péssima administração.


Michael Wolff transcreve alguns dos discursos de Donald e é impressionante ver como não existe preparo, não existe estudo, não existe embasamento. Trump simplesmente contraria tudo e todos e fala o que bem entender, sem se preocupar com os desdobramentos de suas palavras. É um sujeito que claramente não tem noção de causa e consequência e isso se reflete em seu governo.

Boa parte do livro, além de trabalhar a questão da conjuntura internacional e de polêmicas como o envolvimento da Rússia durante as eleições presidenciais e do encontro do genro de Trump com os russos, o discurso do presidente sobre a Coreia do Norte, a opinião sobre Charlottesville etc.

"'Donald Trump entendeu. É Trump, mas entendeu. Trump é Trump.', afirmou Bannon.
'Sim, é Trump', disse Ailes, com ar de incredulidade." Página 21

A princípio pensei que o livro fosse falar mais sobre o Trump, diretamente em contato com ele. Havia ficado com a impressão de que o livro seria um relato mais pessoal, mas de bastidores do próprio Trump, com conversas dele, reflexões, pensamentos e ações que teriam sido acompanhadas de perto por Michael Wolff. Entretanto, ele faz um retrato pessoal e político quase aos olhos das pessoas que convivem com ele. O livro se torna um relato mais voltado para as pessoas que fazem parte do dia a dia na Casa Branca de Trump do que do próprio presidente em si. São mencionados Ivanka, a filha do presidente, Jared, seu genro, Bannon e Hicks, nomes de expressão em seu governo. O livro se torna uma história mais dos coadjuvantes do que do protagonista caricato que despertou a curiosidade do mundo inteiro. Isso prejudica a leitura para o leitor que não acompanha muito a política estadunidense e que queria apenas ter um olhar um pouco mais profundo sobre o governo da maior potência mundial.

A leitura se torna muito densa, com muitas informações e referências que não são explicadas. Michael Wolff cita muitos nomes e acontecimentos que, para o cidadão norte-americano, podem ser comuns, mas para o leitor brasileiro comum se tornam pouco contextualizados. Por isso a leitura pode se tornar cansativa e não flui tão bem.

Fogo e fúria é um livro interessante para entender um pouco melhor o governo de Donald Trump, o papel dos lobistas na política norte-americana, os interesses pessoais e financeiros por trás das nomeações para os cargos públicos e a agenda presidencial norte-americana. Entretanto, não é uma leitura fácil, é um livro de nicho muito bem definido e não é muito agradável de se ler porque exige certo embasamento prévio. Não é qualquer leitor que irá mergulhar na leitura. Michael Wolff escreve para o cidadão estadunidense que já acompanha o desenrolar dos acontecimentos há algum tempo e quer saber um pouco mais sobre os bastidores, então para o leitor comum é difícil entender com tanta facilidade esses bastidores se o contexto geral não é tão próximo. É um livro válido, que apresenta uma leitura diferente, mas não é para qualquer um.

Gostou da resenha e quer conhecer outro livro que trata de questões políticas e mundiais? Então confira a resenha de A grande saída.

"Em um intervalo de pouco mais de uma hora, na observação jocosa de Steve Bannon, um Trump atordoado se metamorfoseou em um Trump descrente e logo em um Trump apavorado. Mas a transformação final ainda estava por vir: de repente, Donald Trump se tornou um homem convencido de que merecia ser presidente dos Estados Unidos e de que era plenamente capaz de exercer o cargo." Página 32


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9 comments

  1. Existem alguns tipos de livros que penso eu, que nem deveria ser lançado no Brasil, vou levar esse como exemplo, claro que com ele na presidência algumas coisas impactaram negativamente ou positivamente (acho difícil)aqui no Brasil, mas no geral é uma leitura como você citou para alguém que já tem noção dos acontecimentos, ou seja, esse livro foi feito para o povo de lá. Mas entendo perfeitamente que existem muitos leitores que gostam desse tipo ou tem curiosidade em saber, no meu caso passo é longe.

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  2. Que assunto maravilhoso aborda um assunto até então nunca abordado por aqui..Em se falando de pais DE primeiro mundo é algo surpreendente que deverianos nos espelhar.
    www.robsondemorais.blogspot.com.br

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  3. Achei curioso o fato de que ninguém da equipe de campanha (nem mesmo o Trump), acreditava na vitória. Realmente um total despreparo de todos os envolvidos nessa candidatura. O livro pode ser interessante para quem gosta de saber mais sobre política a nível mundial.

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  4. Esse é um livro que eu gostaria de ler. Sua resenha muito bem redigida me deixou bem curiosa. Obrigada pela dica.

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  5. Olá!
    é inacreditável o rumo que o mundo vem tomando, a cada dia eu fico com medo desses homens no poder, são ão despreparados, tão sem opinião e firmeza. o mesmo acontece aqui no Brasil, quem é a mulher desse presidente bundão aqui, quem é esse Temer?
    Apesar de ser um livro com grande histórico, não leria, pois ficaria ainda mais preocupada! Mas gostei muito de conhecer e saber a sua opinião a respeito!

    beijos!

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  6. Apesar de Donald Trumo não ser exatamente a pessoa que eu acompanho acredito que nem memso ele acreditava na sua vitoria. Estas situações politicas so mostram como a politica esta desacreditada. Temos de repensar nossa politica mundial que virou um circo dos horrores nos ultimos anos onde a principal caracteristica e ser um personagem. Triste.

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  7. Quero ler, amo dicas literárias! Porém quero comentar outra coisa: que blog maravilhoso! Adorei tudo: desde a sua forma de escrita até o design, a organização clean do blog, as fotos selecionadas, tudo impecável. Parabéns, Laura! <3

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  8. Eu já super admiro esse autor por ter conseguido passar 200 dias com o Trump. Eu pediria para sair no primeiro 10 minutos com esse embuste. Sorry, mas eu nao gosto dele haha. Mas enfim, apesar de ter um ranso pelo Trumpe eu leria esse livro pq amo historia e querendo ou não, Trump faz parte da historia do mundo.

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  9. Uau, queria muito ler esse livro, apesar de não ser um tipo de tema que eu goste. Adorei sua resenha muito bem escrita.

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