Resenha: Você nunca mais vai ficar sozinha

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Os textos de Tati Bernardi sempre são um deleite. Depois de Homem-Objeto, minha última leitura da autora, estava ansiosa para conferir mais um livro temático, dessa vez focado na maternidade de um jeito bem peculiar. Você nunca mais vai ficar sozinha é um livro cru, honesto e humano sobre a relação entre mãe e filha. Saiba mais! 

"Neuras, traumas, obsessões, medos e amor desmesurado são os ingredientes desse livro hilariante sobre uma filha que vai virar mãe.

Aos trinta e cinco anos, Karine faz roteiros para prêmios como “Você Faz a Diferença no Setor Têxtil” ou “Prêmio Nacional de Saúde Bucal”. O emprego que não a satisfaz intelectualmente ― seu sonho é escrever para o cinema ― permitiu ao menos que ela saísse de seu bairro natal, o Belenzinho. Sua obsessão com sucesso financeiro é o caminho mais curto que encontrou na tentativa desesperada de se afastar da vida tacanha e neurótica de sua família.
“Você nunca mais vai ficar sozinha” é a frase que ela ouve de sua mãe quando conta que está grávida de uma menina. Hipocondríaca, ela cumpre com rigor a rotina de exames pré-natais. Em intermináveis conversas com sua enfermeira predileta, Karine rememora episódios da turbulenta relação com a mãe, maldiz as agruras da gestação e antecipa o amor e os medos da maternidade.
O novo livro de Tati Bernardi tem a química explosiva que só ela sabe produzir: altas doses de humor, neurose e cinismo, costuradas numa prosa ágil e inteligente que confere humanidade e empatia aos personagens mais improváveis. Neste romance intenso e hilariante, a ideia do fim da solidão que o nascimento de uma filha pode trazer parece ser ao mesmo tempo um bálsamo e uma danação.

“Uma escritora impetuosa e original […], adepta da mais drástica intensidade narrativa, como uma roteirista de telenovelas que fosse em segredo discípula, sei lá, de Kierkegaard.” ― Otavio Frias Filho"

FICHA TÉCNICA
Título: Você nunca mais vai ficar sozinha
Autora: Tati Bernardi
Ano: 2020
Páginas: 144
Idioma: Português
Editora: Companhia das Letras
Nota: 3,5/5
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Gosto de livro que respeitam a individualidade na forma de maternar de cada mulher e nas relações entre mãe e filha que são tão plurais quanto a própria expressão do feminino. Em Você nunca mais vai ficar sozinha temos acesso a uma das várias facetas dessas relações por meio de Karine e sua mãe. Seu relacionamento não é romantizado ou pensado de forma a se encaixar num rótulo perfeito. Mesmo que talvez não seja possível se identificar perfeitamente com todos os elementos dessa relação, é interessante ocupar um papel de observador e ter acesso a fragmentos e memórias da vida de um filha e como isso afeta a forma como ela vê a própria maternidade. 

"Não daquelas grávidas saltitantes, não me tornei um unicórnio alado da alegria suprema. Amo esse filho, amarei esse filho. Acho que é menino. Falo pras pessoas que com tanto mal-estar e cansaço e prisão de ventre nem um dessas mocinhas bem bobas e leves e "apaixonas pela vida" permaneceria solar. Mas é mais do que isso." 


Tati Bernardi tem um estilo ímpar que se destaca a cada texto seu que tenho o prazer de ler. Quando a autora não inova em seus pensamentos e reflexões, ela apresenta ao leitor estilos únicos e estruturas narrativas maravilhosas. Gosto da forma como a autora consegue inovar falando sobre temas banais e do nosso cotidiano. Você nunca mais vai ficar sozinha é narrado pela protagonista para a enfermeira Beth enquanto espera para realizar seus exames e consultas na gravidez. 

O livro, apesar de ter sido escrito pensando na estrutura de um romance, lembra mais um diário. Tanto pelos capítulos tão curtos, quanto pela narrativa não linear. Temos acesso apenas ao que a protagonista quer compartilhar e momentos bem específicos. O livro pouco fala sobre a protagonista em si, então é difícil visualizar uma personagem com tão poucas descrições, o que me faz acreditar que o objetivo do livro tenha sido criar uma identificação, colocando o leitor (mais precisamente leitora) na pele da narradora. 

"Porque minha mãe terminou com todos os homens para poder ficar para sempre com a minha avó e também para poder ficar eternamente comigo." 


Você nunca mais vai ficar sozinha é um livro que aborda a maternidade de forma única e diferente de tudo que eu havia lido até então, dentro da temática. A gravidez pode ser uma fase bem profunda para muitas mulheres. Além de tudo o que significa estar grávida, ser mãe e parir, que dariam longos textos e conteúdos por si só, a gravidez traz muitas reflexões acerca da condição de mulher, traz à tona sentimentos e lembranças e não deixa de ser um momento em que as figuras maternas se destacam de forma inegável, como referências preciosas.

"E você ouviu minha risada e parou de chorar. Então não senti a maior emoção da minha vida, muito menos a maior felicidade de todos os tempos, mas tive certeza absoluta de que eu jamais vou te deixar."  


O livro fala sobre imperfeição e realidade. Sobre a verdade nua e crua dos vários entendimentos do que é ser mãe e como isso é percebido e vivenciado pelos próprios filhos. Acredito que é justamente esse elemento real e subjetivo que torna Você nunca mais vai ficar sozinha um livro tão diferente.

É um livro todo pensado mais na relação da filha do que da mãe. É uma mulher que, vendo-se na posição de futura mãe, começa a relembrar e refletir sobre diversos momentos que, como filha, a ajudaram a definir sua mãe. 

Os pontos altos do livro, para mim, são, sem dúvida, o humor ácido e a sinceridade de Tati Bernardi, que exalam das páginas do livro de forma inegável. Você nunca mais vai ficar sozinha é uma completa e necessária desromantização da maternidade e também fala sobre as marcas e cicatrizes passadas de mãe para filha, e a cada reflexão Tati carrega a escrita com humor e honestidade. 

"Mas como dá pra amar um amontoado minúsculo de células que simplesmente jogou uma bomba na minha vida, me diz? Eu até converso com ele, no banho. Digo coisas como "mamãe vai te amar um dia, mas não está curtindo a gravidez, e isso não tem nada a ver com você"."


É um livro um pouco confuso, difícil de entender a estrutura e o objetivo no começo, então tive uma certa dificuldade em me conectar com a narradora e até mesmo de me sentir envolvida pela leitura até quase a metade do livro (é um livro curto). É um daqueles livros que precisa de um tempo para "assentar" e ser compreendido. Acredito que, para os que estiverem dispostos a fazer uma releitura, sentirão mais conforto e prazer em ler pela segunda vez. 

Não é um livro ruim, mas não é um livro que eu recomendaria para todos os tipos de leitores. Além disso, é um livro para ser lido no momento certo, na hora certa. Tenho certeza de que se eu o lesse em um momento diferente da minha vida, talvez mais próximo de uma possível conexão com a gestação e a maternidade em si, teria uma experiência de leitura bem diferente. 

Gostou do livro e quer conhecer outro título que aborda a maternidade? Então confira a resenha de Maternidade.

"A mãe que envelheceu e morreu e deixou a filha com uma filha e um dia essa filha com uma filha." 


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