Em um mundo cada vez mais amargo, poder encontrar lançamentos da poesia brasileira cada vez mais presentes nas estantes é um alívio imensurável. Com poesias curtas, rabiscos carinhosos e imagens, Pequenos Reparos prepõe um momento de reflexão recheado de suspiros e detalhes.
Quer saber o que achei do livro? Então confira a resenha de Pequenos Reparos:
“Em Pequenos reparos, Omar Salomão faz nova visita poética aos perímetros do fazer artístico Omar Salomão fez o tempo passar devagar para o leitor observar atento os sentidos mais claros, conduzindo o olhar para as sutilezas do dia a dia. Mas não apenas estes reparos povoam os poemas, as fotografias e os desenhos desta compilação. Omar destrinchou a palavra, pois ainda tinha pendente um ofício de reparar: como se alguém precisasse de remendo, de restauro, seus versos são também consertos, voltas. O desejo de reconstruir o que foi atingido por estragos passados. Omar fez de Pequenos reparos um diálogo entre seu trabalho plástico e literário, um artista moldando a linguagem e seus limites."
Título: Pequenos reparos
Autora: Omar Salomão
Ano: 2017
Páginas: 128
Idioma: Português
Editora: José Olympio
Nota: 4/5
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LIVRO CEDIDO PELA EDITORA
LIVRO CEDIDO PELA EDITORA
Pequenos reparos é um livro é quase todo fragmentado e a ideia que passa é exatamente essa: pequenos retalhos do cotidiano. Todos os elementos gráficos do livro se juntam para formar uma poesia que vai além dos versos e das estrofes, a poesia se completa na obra como um todo.
O terceiro livro de Omar Salomão é um convite à sensibilidade. É um livro que propõe te levar a outros lugares, a conhecer pedacinhos do mundo e sua essência, e que te convidam a vivenciar uma experiência poética ao construir todo o significado com os desenhos, com as fotografias e, claro, com as palavras. É possível visualizar a poesia se formando nas páginas de Pequenos Reparos e acompanhar todo o percurso dos sentimentos do autor.
“um corte abrupto
uma interrumção
como se depois
ao contrário de antes
não se sucederiam mais curvas
correntezas
selvas jubilosas
dessa vez viria
o vazio
pra se experimentar" p. 23
uma interrumção
como se depois
ao contrário de antes
não se sucederiam mais curvas
correntezas
selvas jubilosas
dessa vez viria
o vazio
pra se experimentar" p. 23
Um bom poeta é aquele que não precisa de um grande amor ou uma dor gigante para tirar um poema da experiência, qualquer coisa basta. Qualquer coisa. Essa é uma das coisas que Omar Salomão faz de melhor em Pequenos Reparos, tudo é fonte de inspiração, desde manchas até infiltrações e rasuras. “Acho que a relação texto e imagem gera um pensamento do livro como um todo, e gosto desse sentido, do livro não como uma seleta de poemas, mas como um conjunto de narrativas e fragmentos que vão se entremeando", disse o autor em entrevista ao Blog da Editora Record.
"Entendo o poeta como alguém que está o tempo todo sendo poeta, o olhar está desperto o tempo inteiro, observando. Meus textos são muitas vezes feitos em trânsito, em movimento, em deslocamentos. Acho importantes essas camadas de sujeira, poeira, no meu processo de criação. Os meus cadernos acumulam essas poeiras do tempo, manchas de café, de caneta, de água, de álcool, e isso vai distorcendo e esburacando a escrita, abrindo espaços. Processos delicados, frágeis e agressivos", contou o autor em entrevista.
O título do livro que me fez ler os poemas com curiosidade se remete não apenas aos reparos em que consertamos algo ou colocamos alguma coisa no lugar que deveria estar, mas também está ligada ao ato de reparar, de notar e perceber. São justamente esses pequenos detalhes tão encantadores para os poetas que costumam passar batido para a maior parte das pessoas que não têm tamanha sensibilidade.
Não sei se pela foto de capa ou pelo conteúdo do livro com tantos poemas abordando o mar, me senti na praia, deitada em uma espreguiçadeira e observando a vida acontecer. Pequenos Reparos é um livro capaz de te transportar quase como se estivesse te carregando no colo para um momento de quietude.
Pequenos Reparos é um daqueles livros perfeito para pessoas com a sensibilidade aguçada, para aquele leitor que busca enxergar aquilo que ninguém mais vê ou não se importa o suficiente para olhar. É uma lufada de ar fresco em meio à rotina. Para os amantes de poesia e de momentos de calmaria, fica a dica.
Se você gostou da resenha e quer mais uma dica de um livro de poesia, confira a resenha de Outros jeitos de usar a boca!
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“sobra algo de nós nos cantos da casa / peças de roupa, copos e cigarros / a fuligem dos dias sobre os móveis / os restos de folia encostados / as tábuas do chão rangem / e são o único som na casa / as paredes s fecham / e os jornais de ontem se acumulam / gotas escorrem pelo vidro / deixando turva a visão pra rua / quase esqueço / quase / e a pele não deixa '" p.71
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